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domingo, 4 de dezembro de 2011

Carta a Daniel 23


Querido Daniel,
talvez o amor que eu busque, seja, afinal, inexistente.
Talvez os momentos felizes sirvam apenas para lembrar da tristeza que resta no fundo do pote, quando acaba o doce.
Talvez os risos todos sirvam apenas para lembrar o vazio do silêncio que nasce da ausência. A tua ausência, a ausência de todos, a ausência do meu espírito que se foi. Eu pensava que a fortaleza voltaria a habitar essa morada, mas as coisas continuam aos pedaços. Aquele furacão que levou Dorothy fez com que ela nunca voltasse a ser mesma.
Ou era tudo sonho?
Talvez porque é dezembro. Talvez porque mais um ciclo acaba. Talvez porque a fé insista em desistir.
Tu foste viver outra vida, tu nem lembras mais que eu existo. Se é que algum dia existi. Existi?
E tantas coincidências.
E foste nada, nada. Agora há aquele caderno incompleto, inacabado, como essa idéia, como a idéia de ti. Quem eras tu? O que buscava eu?
Nem sei mesmo onde estava. Estávamos.
Uma livraria no meio da avenida mais movimentada do mundo. Uma calçada com todas as pessoas do mundo.
E eu chorando. E eu gritando.
E ele me dizia: eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo...
Quem eras tu?
Eu sei quem ele é, e há sempre um ele, não é mesmo?
E o passado que volta como onda revolta do mar para me cuspir lixo na cara.
Onde estou? O que busco?
Talvez um amor, afinal, inexistente.
Algo que preencha um vazio impreenchível.
Um abraço do tamanho do mundo, que aplaque essa solidão infinita e gélida.
Deve ser por isso que estou sempre com frio.
Um beijo com gosto de areia salgada,
C.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Carta a Daniel 22

Querido Daniel,
eu te convidei a viver os nossos sonhos, tenho certeza de que aquele sonho específico não era só meu, era algo que criei com o material que encontrei em nossas mentes e corações. Eu te convidei, te convidei!
Me negaste, abandonaste, fizeste pouco de mim.
Eu não sei onde eu estava com a cabeça quando te fiz aquele convite.
E agora? Onde estão os meus sonhos? Aqueles que eram só meus? Que fim tiveram? Tiveram fim?
Nem procuro mais. E a casa está vazia, mas cheia de lixo. É tanto por limpar que eu nem sei por onde começar.
E tu estás aí, sorrindo, com essa tua cara feia. Quem pensavas que eras?
E onde estava eu com a cabeça, Daniel? Onde estava eu com a cabeça quando imaginei tudo aquilo? Perdida numa dor, perdida numa nuvem de cinzas, perdida, perdida.
Agora sei onde estou, mas não sei onde está todo resto. A dor é só no corpo e o espírito é vazio e pesado ao mesmo tempo. E sinto saudades de coisas que não vivi e de pessoas que existem só na minha imaginação.
Não te deixo mais beijos, Daniel.
Nem sei se volto a te escrever.
Morra, Daniel. Morra.
C.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Carta a Daniel 21

Querido Daniel,

Eu preciso te dizer adeus. Nem que seja nos meus sonhos. De alguma maneira, tu estavas lá, dentro do meu coração e dos meus pensamentos. Foste substituído por algo de real, mas me doeu perder-te. Assim como doeu imaginar que eu poderia perder o que tenho de concreto. Mas ele voltou com uma camiseta verde e isso me deu esperança.
Havia uma floresta escura à frente da tua casa, eu não queria que ele fosse até lá. Eu tinha medo que ele não voltasse. Mas também não queria deixar-te. Agarrei-me a ti, com os braços e as pernas e minhas lágrimas, mas permaneceste inerte, como se eu não estivesse ali, como se meu corpo não estivesse junto ao teu.
Havia um veneno em uma seringa negra. Eu tinha uma arma futurista e letal. Havia um helicóptero negro. Eu precisava fugir, eu precisava de ajuda, eu passava mal, eu estava envenenada. O máximo que consegui foi que minha irmã pegasse um ônibus comigo. Eu precisava esconder-me.
Como pudeste simplesmente excluir-me da tua vida como se eu nunca tivesse feito parte dela? Como podes viver sem sequer dedicar um único e singular pensamento a mim? Ainda que o fizesses de tempos em tempos?
Eu sei que me apagaste de tudo. Eu nunca existi. Eu não fui, não sou, não serei nada para ti. E isso não te doeu nada. Tu não sentes dor, tu nunca sentiste a minha dor. Nunca te preocupaste comigo, nunca pensaste que eu poderia simplesmente ir...
Não te deixo mais beijos. Não mais.
C.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Carta a Daniel 20

Querido Daniel,
faz frio lá fora e o frio seria maior se o silêncio não tivesse sido cortado.
Minhas unhas agora são cinza, cinza como minhas roupas e os meus dias. Todos os dias são a distância da palidez do teu rosto. A distância que flui.
Queria que me dissesses porque me odeias tanto. O que há no que possa ter acontecido que tenha deixado tanta mágoa dentro de ti. Uma mágoa que transparece no teu olhar baço, que não tem o brilho de antes.
Há um mundo de distância entre nós. Vários mundos: tudo gira ao redor da música, do tempo, dos sabores e aromas.
Eu queria chorar e não consigo. Em vez disso, meu nariz coça. Eu dormi, dormi, dormi, e não tive nenhum sonho bom. Ainda penso em cortar as minhas mãos, cortar as palmas das minhas mãos e ver o sangue escorrer por entre meus dedos. Isso me acalmaria.
Eu quis a paz e imaginei uma casinha isolada no deserto. Seríamos felizes, eu e tu. Teríamos um cão, peludo e grande. Sempre a andar com o rabo abanando de alegria e gratidão. Se há algo que os cães têm é isso: demonstram gratidão em quase todos os seus atos.
Eu prometeria o seguinte: cuida de mim agora. Cuido de ti depois. Cada um ao tempo de sua necessidade. Porque agora eu preciso, e muito.
Há algo de inconcretizável nesse sentimento que penso recíproco e isso sempre me parte o coração. Sempre.
Um beijo com gosto de poeira,
C.

terça-feira, 9 de março de 2010

Carta a Daniel 19

Querido Daniel,
é incrível como tu tens a capacidade de tomar conta dos meus pensamentos mesmo após todos esses anos. Eu ainda olho para trás, eu ainda tento entender. O bom de reanalisar uma situação, de rememorar algumas cenas de novo e de novo e de novo, é que tu começas a perceber aqueles pequenos detalhes que, na ocasião, não viste.
E só agora, só agora, passados uns muitos anos, é que percebi como nunca me incluíste na tua vida. Nunca me convidaste a conhecer o teu quarto, nunca me mostraste uma foto que fosse da tua infância, nunca me apresentaste a alguém que fosse realmente importante para ti.
Eu, ao contrário, te fiz parte da minha vida, deixei que tu existisses dentro da minha rotina, da minha casa, dos meus braços... deixei que tu provasses da minha comida, te contei meus desejos e sonhos, li alto os trechos dos meus livros preferidos, compartilhei idéias, te levei aos lugares que mais amo na minha cidade. E tu, em troca, me deste quase nada. Sorrisos, abraços, beijos. Mas jamais fizeste planos comigo, fora querer dormir juntos no inverno, porque eu sou quentinha e poderia te aquecer.
Eu te escrevi todas aquelas cartas te contando da minha vida, te expondo a minha alma. Tu não respondeste uma sequer.
Acho que um amigo meu tem razão: eu mereço um amor correspondido, algo que contigo nunca tive.
Um beijo de lágrimas,
C.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Carta a Daniel 18

Querido Daniel,
eu senti saudades de ti. Dos teus pés. Daquela sala à meia luz e do silêncio. Da brisa morna da tarde. Da falta de expectativa, do sanduíche, do queijo.
Daquilo que seria. Senti saudades. Daquilo que seria.
"Se a gente continuar vai doer?"
"Vai."
Pois eu não sei de nada. Meu estômago queima.
Eu fiquei ouvindo todas aquelas músicas que só gosto de ouvir sozinha. Porque existem certas coisas incompartilháveis. Não as músicas em si, mas o que elas evocam. Acho que entendes.
Talvez eu devesse mesmo cruzar o oceano. Acreditar que existem príncipes. Mas na verdade, se ele fosse mesmo um príncipe, ele viria, ele atravessaria todo o mar para me encontrar.
Muitas coisas não fazem o menor sentido. E as que fazem, também não me dizem muito.
Mas eu consegui admitir certas coisas e isso foi, de alguma maneira, um tanto libertador. Não o bastante para me libertar da tristeza. Eu não sei nada de ti, eu não sei nada de ti. Só sei que as promessas quase nunca são cumpridas e todo o resto é ilusão. O problema é que, mesmo quando percebemos a ilusão, não conseguimos tomar nenhuma atitude concreta com relação a ela. Limbo.
Eu soltei o meu cabelo e tu não viste como ficou bonito. Eu sorri e tu não viste como foi sincero. Eu bebi, porque é mais fácil beber. Não se pode ter o melhor de dois mundos; às vezes, sequer se pode ter o melhor de um mundo só.
Depois a realidade virá galopante, baterá na tua porta, tu não saberás o que dizer mas não terás como impedi-la de entrar. Ela vai entrar, ela vai derrubar as paredes, ela vai derrubar tudo e terás de começar com uma pedra e depois outra, até teres teu castelo outra vez.
Eu vou morar na torre encantada, e quando meu cabelo estiver comprido o bastante, jogarei minhas tranças pela janela, à espera de um princípe que suba por elas e me tire de lá. Ou então uma verruga, na ponta do nariz, que atirada ao chão fará dele surgir uma escada. 
Um beijo com gosto de lima,
C.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Carta a Daniel 17

Querido Daniel,
mais um ano passou. No entanto, ainda sinto que tenho um espinho cravado em meu coração, daqueles que doem nos momentos mais insólitos, devido a algum sobressalto cardíaco.
Já tentei tirá-lo, mas está encravado, penetrou bem fundo, e para removê-lo, será necessário abrir um buraco no meu peito, cavoucar esse músculo involuntário, e isso trará ainda mais dor, por isso evito.
Quero que saibas que tu sabes o que fazer, apenas precisa fazê-lo. Preciso de alguém que segure minha mão quando eu cravar a faca em mim mesma, preciso de alguém que me ajude a fazer curativos, limpe o sangue, enxugue minhas lágrimas. Penso que és capaz disso.
Preciso de um colo onde descansar a cabeça, preciso de um pano de água fria na testa quando a febre se fizer inevitável. Preciso que segures firme a minha mão quando eu gritar.
Eu saí, eu voei, eu usei o telefone e mandei sinais de fumaça, porque precisava te encontrar. Agora que estás aqui, por favor, fique.
Um beijo com sabor de cereja,

C.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Carta a Daniel 16


Querido Daniel,
sinto que me perdi. Em algum momento, em algum lugar, eu simplesmente me deixei levar por divagações e esqueci o que faço aqui. Será que tu poderias ajudar-me a lembrar?
Saturno passou por cima de mim como um trator. Ou um tanque de guerra. Ainda estou no meio da terra arada, no meio da poeira, sem saber ao certo se devo plantar algo aqui novamente. Racionalmente penso que o resultado de tudo isso deve ser bom, há de ser bom. Mas emocionalmente me sinto vazia, anestesiada. Quando consigo sentir algo, esse algo é apenas desolação. Eu vejo a terra mexida, eu vejo os restos do que havia ali antes, eu tento entender como aconteceu e não entendo. Será que tu poderias tentar entender? Para depois explicar-me?
Das várias coisas que eu pensei, eu pensei que não, que ele não merece isso. Eu não devo dar esse gostinho a ele. Um gostinho amargo de uma vitória que é na verdade uma derrota. Essas pessoas todas, quem elas pensam que são?
Iludo-me, eu sei. Essas preocupações comezinhas que me distraem de tanto em tanto, elas não têm qualquer base na realidade. A realidade é cinza. A realidade não tem essas cores que insistem em me ludibriar.
No entanto, a bem da verdade, não tenho força, não tenho vontade, e há dias em que me pergunto que energia misteriosa me leva a levantar da minha cama e ir até onde quer que seja, ainda que esse onde seja apenas a cozinha ou o banheiro... não sei que força estranha me move ao banho, a comer, a vestir, a afagar a gata, sinceramente não sei. Será que tu sabes? Se sabes, podes contar-me?
Sinto saudades tuas.
Um beijo com gosto de chá,

C.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Carta a Daniel 15


Querido Daniel,
estás quase deixando de existir. Transformado em fumaça, apenas tenho uma vaga noção de como era teu sorriso. Pergunto-me, diariamente, onde e quando e porquê ficamos assim: tão covardes. Algo de muito ruim, de muito sujo, de muito escuro deve ter acontecido em algum momento e, tomados pela surpresa, não conseguimos absorver de todo a tragédia, de maneira que ela penetrou nosso sangue, pouco a pouco, tornando-o podre e viscoso demais para continuar correndo em nossas veias.
Pergunto-me se poderemos fazer algum tipo de diálise que possa limpar nosso sangue, torná-lo vermelho, fluído, para que nosso organismo possa funcionar com perfeição novamente. Mas é difícil enxergar com sangue negro nos olhos. É difícil prosseguir com o coração pesado. As pernas parecem pedras, estão roxas e endurecidas.
Pergunto-me onde estarás, no que estarás pensando. Não que faça alguma diferença. No momento me parece que nada faz diferença e se o mundo acabar amanhã, bem, acabou. Não haverá ninguém depois disso para dizer que era alguma maldição da sexta-feira 13. Tudo deixará de existir e, por isso mesmo, nada importará. Pensar em ti apenas me distrai de pensamentos negros. E nem mesmo isso importa.
Um beijo salgado,
C.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Carta a Daniel 14


Querido Daniel,
com o tempo, eles deixam de ser pessoas. Passam a ser memórias. E na memória podem ser quem nunca foram, nem serão. Os rostos ficam distantes, e começamos a trocar a cor dos seus olhos. Uma anedota deixa de ser tão engraçada e não lembramos mais quem foi que a contou.
Porque o tempo faz os amores arrefecerem, cederem, dobrarem-se. Perdem quase todo seu significado. E as pessoas que deixamos de amar perdem suas cores. Perde-se o cheiro de sua pele, o calor de seu abraço.
E aquela idéia de conhecer alguém quase tão bem quanto a si mesmo cai no vazio, no escuro, deixa de ser plausível, passa a ser mero devaneio juvenil.
Eu acho que a modernidade fez isso conosco: nos desvinculou. Trocamos de amores como quem troca de roupa, ainda que isso nos magoe e nos deixe sem rumo. Não podemos mais esperar passar a vida ao lado de quem amamos, porque esse amor se desfaz como açúcar na água. Ainda se pudêssemos aquecer tal mistura, obter uma calda que virasse depois um caramelo, doce e duro, tanto mais perene, um pouco mais difícil de dissolver. Mas não há como fazer isso, ou ainda não aprendemos a fazê-lo. Então a água leva o açúcar embora e no máximo aparece uma outra ou outra formiga a tentar lamber o açúcar que não mais está ali.
Meu coração partiu e desde que ele partiu, eu não sei mais respirar direito.
Conta-me do teu coração.
Um beijo com sabor de regoliz,
C.


(OBS. A carta número 13 foi extraviada pelos correios)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Uma carta para Cléo


Querida Cléo,
Não sinta tanto medo. Seu mundo não está em colapso. Ele apenas está se transformando. Você está deixando de ser quem era, para ser você mesma.
Eu sei que tenho lhe deixado um tanto na mão. É um processo pelo qual nós dois estamos passando agora. Você é forte, e você consegue aguentar. Você não está sozinha. Você precisa lembrar de que não está sozinha. Há muitas pessoas ao seu redor que lhe amam e se preocupam com você.
Embora eu não esteja ao seu lado fisicamente, meus pensamentos estão. Eu beijo as suas mãos, eu lhe faço cafuné. Eu lhe abraço e digo: vai ficar tudo bem.
Você sabe que vai, por mais difícil que seja acreditar nisso. Você sabe que você merece que tudo fique muito bem.
Eu sei que não tenho respondido às suas cartas. Sei que isso lhe entristece. Mas não fique triste. Você tem tantos motivos para sorrir, muito mais motivos do que eu.
Guarde aquela pedrinha para mim. Eu prometo que vou buscá-la.
Com carinho,
D.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Carta a Daniel 12


Querido Daniel,
hoje pensei em te atirar na cova, aos leões. Não sei bem o que pretendo com isso. Não sei bem se os leões são de verdade. Talvez sejam gatinhos e eu esteja enxergando mal por causa da chuva e do escuro. Talvez eu ainda veja os mesmos fantasmas de sempre, mesmo que não me assuste mais com suas correntes.
Eu te mandaria uma rosa vermelha, sabes? Mas vais ter de te contentar com uma pedrinha branca. Alba notanda lapillo... Etretat é cheia de pedras brancas, para que todos possam guardar o dia que chegarem lá. Um dia feliz.
Fora isso, beberei vinho todos os dias. E sorrirei. Dessa vez vai ser diferente porque dessa vez eu quero, e é algo para mim, apenas para mim.
Hoje eu gostaria de cortar fora toda a minha pele, com uma lâmina bem afiada. Queria uma pele nova, um olhar novo, um sorriso novo. Mas sei que amanhã estarei novamente confortável comigo mesma. Como está a tua pele, Daniel? Te sentes bem nela?
Agora passo a vê-lo mais como homem, menos como menino. Antes havia algo que me impedia de vê-lo como homem. Era tão só um menino. Bobo como todos os meninos. Não sei dizer o que mudou.
O conflito é a falta de amor, sabias disso? É o não amar. O não amar que ainda me atormenta, às vezes. Eu disse: eu quero te amar. Não sei se isso foi ouvido. Aí as palavras se perdem no vento, talvez percam também o sentido. Talvez tudo, no fim, seja nada.
Um beijo machucado,
C.

sábado, 29 de agosto de 2009

Carta a Daniel 11


Querido Daniel,
lembra aquilo que falaste sobre nosso amigo? Aquele que sabe se proteger?
Balela. Ridículo.
Tu sabes, eu sei, ele mesmo sabe: não sabemos nos proteger. Achamos que evitar é uma maneira de nos protegermos, mas não é. Apenas evitamos, e mesmo assim não deixamos de sentir.
Um homem me escreveu uma carta, uma vez. Ele contou tudo o que ele gostava a meu respeito. Eu sempre soube que ele tinha sido a única pessoa no mundo que um dia viu quem eu era. Sabe o que eu fiz? Eu joguei a carta fora.
Medo.
E isso me protegeu?
Não. Só me fez sentir raiva de mim mesma.
Será que algum dia alguém escreverá outra carta parecida? Tudo me leva a crer que não. Tu achas que outra pessoa te escreveria cartas como eu?
Tu achas que realmente te proteges de alguma coisa?
Seremos atropelados, tu e eu.
O pior mesmo é que eu disse: tu já estás envelhecendo. Mas pelo jeito eu sequer ouço meus próprios conselhos. Porque não queremos ficar sozinhos, não queremos ficar sozinhos.
"Eu não preciso disso", ela me disse. Eu ri. Tu achas que não precisas também, não é mesmo? Mas mesmo assim não queres ficar sozinho.
Um amigo falou que precisa de carinho, amor e futuro. Não precisas? Não preciso? Mas é justamente essa mania indecente de ficar tentando adivinhar o futuro que me faz adoecer. Que te faz adoecer.
Desculpe-me se ainda tento ler o que não escreves. Se ainda tento ouvir o que não dizes. Megalomania. Tudo isso é porque insisto em gostar de ti. Fantasma que arrasta correntes aqui, dentro de mim. Meu coração explodiu, te contei? Verdade. Agora eu tenho uma colagem no peito, pedaços costurados, papel roto, sangue escuro.
Porque quando ele está aqui eu o amo. Mas se não está, é tudo negro. Sabes o que é isso?
Pode ser como me disseram: drama. Eu li num livro que isso é uma "janela killer", deve ser mesmo a vontade de morrer. Agora eu nem sinto mais.
Eu sei que faço drama, só que às vezes não consigo evitar. Ao menos eu não sinto tanto quanto antes, eu consigo explicar. Só não sei se sou entendida. Mas é mesmo simples, muito simples: cafuné, abraço e shhhhh. Cale a boca. Só isso. Chega de dizer bobagens, não acha?
Porque quando eu digo que não quero que me escrevas é porque meu coração, tolo, tem no fundinho a esperança infantil de receber uma carta tua.
Com amor e gosto de cereja,
C.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Carta a Daniel 10


Querido Daniel,
hoje vou te escrever sobre mim. Pode parecer estranho, mas a realidade é que nunca te escrevo sobre mim. É sempre sobre ti. Mas hoje é diferente.
Sabe, no fundo, deve ter sido inveja, por mais que me seja difícil admitir. Deve ter sido inveja mesmo, e isso me faz sentir extremamente envergonhada. Eu disse pra uma amiga que a gente não deve ter vergonha de coisas que não são nossa culpa. Eu sei que não é minha culpa, embora no fundo talvez seja.
A inveja era porque eu tenho certeza de que não seria do mesmo jeito comigo. E eu gostaria muito que fosse. Não seria e isso não me impede de nada, talvez só dificulte um pouco mais, e eu não fiz nada e fiquei apenas sentindo pena de mim mesma e inveja alheia.
Depois tinha a história do café. Era mesmo muito boa embora não faça sentido nenhum. Eu comecei a história e depois esqueci onde eu queria chegar com ela e é bem provável que não fosse necessário chegar a lugar algum. O que importava era a história de como eu conheci aquele café numa madrugada quente em São Paulo, no quanto a companhia me fez bem e no quanto eu me senti sozinha e deslocada naquele fim de semana que acabou se repetindo em Curitiba 3 anos depois, no mesmo café, que acabou se repetindo mais 3 anos depois, de novo em São Paulo e acabou não se repetindo, mais 3 anos depois, na mesma Curitiba. Essa coisa de me sentir sozinha e deslocada. Curitiba não me fez mais sentir assim. 3 anos depois. Eu me senti bem, eu me diverti, eu senti que alguém teve saudades de mim.
Mas me fez ver o quanto de horror, mágoa e raiva ainda existe. A ponto de eu acordar no meio da noite sendo afogada por uma água salgada e fria de um oceano de decepção que eu ainda levo dentro de mim.
Me diz: não é realmente mesmo bom isso de ter a atenção e o afeto de alguém? Sem ter que ter feito nada de especial em troca? Não é mesmo bom isso de alguém olhar pra você, conversar com você e simplesmente gostar de você porque você tem toda uma gama de defeitos e qualidades que te tornam único e essa é a razão desse alguém gostar de você? Porque você é único?
Porque você é único. Você pode achar o que quiser de você mesmo, e você pode se comparar a quem quer que você se compare, mas você é único e, por isso, só por isso, merece ser amado.
Não merecemos quase todos?
Beijo com gosto de chuva,
C.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Carta a Daniel 9


Querido Daniel,
percebi que nos escrevemos pouco. Ou seria muito e eu acho que é pouco? Ou?
Não sei. De qualquer forma parecia tanto tempo e nem era tanto assim. Eu poderia te contar toda a minha vida se estivesses disposto a ouvir. Desvendariamos um mistério juntos. Como em Amelie Poulin.
Eu vi umas fotos, eu pensei que posso te encontrar lá. Naquele mar. No vento. Na chuva. Naquelas pedras. Levarei algumas nos bolsos para marcar o caminho. E sempre voltar.
Eu pensei hoje que nesses filminhos românticos bobos as pessoas nunca têm conflitos reais. Os apaixonados sempre se batem por causa de incompatibilidades de personalidades, creio eu. Mas não lembro de grosserias... sinceramente, eu não posso mais suportar grosserias. É quase como se elas me queimassem a pele já queimada.
Ele sempre parte de um julgamento imediato e superficial. Tu já passaste por isso. Tu sabes como é. Eu preferia esse bosta a alguém que aparenta ser o que não é. Eu entendo o que quiseste dizer.
O problema mesmo é rir mais com um estranho do que com qualquer outra pessoa. Eu quis dar muitos socos hoje e já não consegui. Amoleço. Desapareço.
O problema mesmo é essa parcial incapacidade de dizer não. Não, não, não, não, não, não, simplesmente: NÃO. Só isso. Eu preciso do sal do mar. Da maresia. Pássaros e as ondas a bater na praia. Estou cada vez mais repetitiva, não?
Mas falar me invadiu de paz. Foi natural. Talvez não grandioso, mas natural. Pacífico. Sem arroubos nem agressões. Essa é uma carta de feliz aniversário. Porque eu adoro aniversários. E pro teu aniversário eu te desejo paz. Que teu coração se abra e que tuas horas deixem de ser vazias. Que tu consigas sorrir de novo de verdade. Que tu possas estar comigo naquela praia de pedras brancas. Que tu possas te sentir acolhido. Que tu possas sentir calor. Que a luz do dia te alegre. Que os sorrisos das pessoas te encantem. Que a música te toque. Que a beleza te acalme.
Um beijo com gosto de água salobra,
C.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Carta a Daniel 8


Querido Daniel,
8 é um número mágico, do infinito. E o que me pega por dentro e me mastiga e me cospe é essa falta de possibilidade de pensar no infinito. E as bobagens que tenho feito, que nem com 15 anos de idade tinha feito. Os erros que eu cometi que vêm se esfregar na minha cara e esse frio por dentro e por fora, que não termina, não termina...
Porque eu não posso mais planejar? Porque eu não posso mais querer? Porque tanto vazio, tanto vazio, tanto vazio? E frio? O calor que me faz suar é ruim. Não é um calor de verdade, é de mentira. E acho que tens razão quando dizes que tenho a aparência enfermiça de um poeta romântico. Mas agora morro de falta de amor. Pálida. Fria. Triste.
Eu queria a árvore de natal, os presentes, a comida e os abraços quentes. Sorrisos. E só vejo tristeza no fundo dos meus próprios olhos. Há momentos em que o mundo se torna um lugar absolutamente horrível e poucas coisas salvam. Mas hoje ele disse pra mim que as pessoas nunca amaram tanto, e eu quis acreditar. Eu juro que quis acreditar, mas até agora acho que não acredito. Sinto como se fôssemos todos mendigos dormindo na rua nesse frio abissal. E, no entanto, poucos são os que se aproximam uns dos outros na tentativa de se aquecerem.
Eu vou guardar teus iogurtes na geladeira, prometo que eles não vão estragar. Todo dia acordo nauseada e hoje não foi diferente. Vontade de vomitar o mundo que durou o dia inteiro. Tentei me concentrar na comida. Tentei pensar que era realmente boa. Tentei dizer: amiga, não coma bobagens, esqueça disso, tu não precisas disso. Tentei dizer: amiga, é melhor que seja assim. Tentei dizer: amiga, cospe na cara dele e nunca mais lhe dê ouvidos. Tentei, tentei. O máximo que consegui foi consolar um choro que tinha muito motivo. Que era quase meu. Porque foi dia 23 e no dia 22 eu esqueci de cantar aquela música que eu um dia prometi cantar todo dia 22 por qualquer motivo que eu não lembro. Já não importa.
Ele me disse que eu sou uma pessoa ótima. Ontem eu ouvi que sou uma pessoa legal que vai achar alguém legal. Mas eu preciso de calor, carinho e futuro. Talvez nessa mesma ordem. Coisa que eu não sou capaz de dar. Futuro. Alguém? Alguém?
Talvez quando a gente não tem mais nada a perder, seja a hora de ganhar. Eu ainda desconfio. E vejo quanta gente escrota ainda pisa nesse mundo lindo. E os erros vêm e me sujam a face. Debocham de mim. E eu apenas observo.
Preocupei-me com a ausência e talvez não seja nada. Talvez eu me importe demais, seja legal demais. Ainda. Mesmo com todos as pedras que tomei no meio do caminho. Os tombos que levei. Não quero me vangloriar. E ele conhece uma nova eu. Essa pessoa que fica com ele, que eu não sei quem é. Será que tu gostarias de conhecê-la?
Amanhã vai ter sol e vai nevar. Ah, vai. Eu vou pra Etretat, te contei? É, eu vou. Olhar aquele mar por ti.
Um beijo salgado e frio,
C.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Carta a Daniel 7


Querido Daniel,
posso cansar? Posso querer que o mundo acabe? Posso desejar desintegrar-me nesse instante?
O fastio e as tortas de maçã com a Julia Roberts no meu sonho.
Posso não querer mais nada disso? Essa vida, esse trabalho, esses pensamentos, as fantasias e sonhos irrealizados?
Posso, simplesmente, deixar de querer o que quer que seja?
Posso sair sorrindo pela rua pelo simples fato de sorrir, sem qualquer motivo real ou aparente para tanto?
Posso esquecer daquela palavrinha "felicidade" e simplesmente sentir um contentamento infantil em relação às coisas que posso chamar de boas? E uma mágoa raivosa e chorona de tudo o que posso chamar de mau?
Não há nada calado dentro de mim, mas há tudo aquilo que ainda pensa que vive a mordaça.
A boca abre, mas não fala.
O coração bate, mas não sente.
A mão se estende, alcança, mas não toca.
E o cheiro da terra úmida anestesia minhas narinas.
Eu queria te mandar um presente, recusaste. Depois senti-me idiota. Pior, senti-me invasiva. Não me permitiste dentro do teu mundo. De novo, talvez não faça diferença.
Eu bebo vinho e penso em ti. Eu disse que beberia vinho olhando para o rio e pensaria em nada, mas não foi isso o que aconteceu. Não bebi vinho nenhum e pensei em me jogar naquela água, simplesmente nadar até o outro lado, ainda que fizesse muito frio, ainda que o outro lado estivesse muito longe e fosse já outro país.
Agora estou de volta aqui, sentada nessa mesma cadeira, te escrevendo ainda mais outra vez e bebendo um vinho qualquer. Ouvindo uma música triste que me irrita. Talvez, justamente, porque seja triste e eu esteja cansada da tristeza. Tu não estás?
Nem te peço mais notícias. Já nem quero mais.
Um beijo embriagado,
C.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Carta a Daniel 6

Querido Daniel,
deixei mais uma mensagem naquela secretária eletrônica. Será que ele ao menos as escuta? Pensei que poderia ligar toda semana, e deixar mensagens contando tudo o que se passa. Na quinta fui dormir nos braços de um, na sexta acordei nos braços de outro, tão diferentes os dois.
Eu recebi um beijo no rosto e saí porta afora e foi melhor do que beijo na boca.
Eu pensei nos teus lábios e na textura que devem der.
Ele disse que me encontrou na rua e resolveu me levar para casa. Eu pensei que ele deveria então cuidar de mim e fui chorar na casa dele no domingo à noite, vendo filme triste e bebendo vinho. Nós não somos hipócritas, ele me disse. Nós somos diferentes. Pensei em ti de novo.
Sonhei com a praia. Apenas a praia. Não sei se estavas lá, quero que estejas.
Depois da confusão toda, algo deve acontecer. Eu espero uma mensagem, eu sei que ela vem. Amanhã vou colocar no correio um postal. Eu queria te mandar doces, gostarias de recebê-los?
Choveu, e eu queria que chovesse mais. Eu beijei lábios que não eram os teus, eu fiquei feliz, eu quis chegar em casa e te encontrar. Eu quis me jogar nos teus braços. Tu és fumaça, não sei onde estás.
Ele abriu meu caderninho justo na página onde está escrito teu nome. Eu fiquei com vergonha. Tudo isso são os dias em que vivo aqui, longe de ti. Eu nem sei o que faria diferença no momento. Sequer sei o que me faria feliz. Apenas sei que a felicidade só pode ser real quando ela é compartilhada. Eu gostaria de poder rir de novo. De verdade. Mas não consigo. Eu me sinto um saco de risadas: falsas. Eu quero um banho de mar como aquele, sorriso verdadeiro, abraço molhado, areia, sal.
Eu penso que és o único que consegue me entender. Há algo a ser entendido, de fato há. Mas ninguém vê, ninguém vê, e talvez eu realmente fale demais.
Prometa que vais me escrever.
Beijos com gosto de doce de leite,
C.

domingo, 21 de junho de 2009

Carta a Daniel 5


Querido Daniel,
eu percebi. Ao menos acho que percebi. Não digas nada, tudo bem. Eu quis te ligar, eu quis te mandar um e-mail, eu quis te perguntar. Não fiz nada disso. Mandei uma mensagem no teu celular, e acho que ela voltou. Ou sequer chegou. Não obtive resposta e não quero admitir que talvez isso seja a resposta.
Deixei uns 5 recados no voice mail de um celular da Inglaterra. Nem sei se o número estava certo, mas eu tive que pedir: please, please, contact me, I wanna talk to you. Fiquei de tentar de novo. It's a mobile, right? Então eu nem preciso mais me preocupar com o horário.
Depois tocou Shania Twain e eu pensei que era um sinal. Eu e essa história ridícula de sinais. Não houve nada aí, tu sabes. Nada, a não ser o vento de mudança. Eu acredito no vento de mudança, tu deves me achar completamente doida.
Acho que tiraste lágrimas de dor de dentro das tuas veias. Havia sangue no meu sonho. Não era o teu sangue no meu sonho, mas eu senti como se fosse a dor de dentro do teu sangue naquelas tuas frases que lembravam de quando eras alegre. Depois morremos e não sei bem o que restou. Agora eu consigo sorrir. Precisava de colo e de que tu dormisses comigo. Acho que não vens agora, mas me agarro à uma esperança quase infantil (ou apenas tola), de que tu vens, tu realmente vens, e eu só tenho que te esperar.
Mas me disseram que querer isso não é infantil, então eu quero. Fico esperando os tais sinais, fico esperando o vento vir soprar idéias no meu ouvido. Fico esperando que o vento me traga notícias tuas, me traga um beijo teu no meu rosto.
Algo que acalente. Algo que me encha de esperança. Essa idiota que recusa-se a morrer.
Porque assim o verão chega mais rápido e com ele o sol. E dias de luz, que precisamos os dois. Pés na areia da praia, não me custa nada sonhar, então eu sonho.
Quando voltares dessa escuridão interna onde eu penso que estás agora, mande-me notícias.
Muito amor,
C.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Carta a Daniel 4


Querido Daniel, como têm sido teus dias?
Os meus, up and down and all around. Normais, creio.
Aliás, não posso mais dizer que acho, ou que não tenho certeza. Ou eu sei, ou eu não sei. Assim.
Então como posso te explicar como têm sido meus dias?
Dia 31 de março foi o dia em que as personagens de A Long Way Down quiseram cometer suicídio. Digo quiseram, porque na realidade não tentaram, apenas quiseram.
Dia 31 de março, coincidentemente, foi o dia em que eu morri.
Essa pessoa que acordou no dia 1º de abril, dia dos bobos, quase como se realmente tivesse morrido, não é a mesma pessoa que apagou no dia 31. Tu sabes do que estou falando.
E os meus dias, desde então, têm sido baços, um tanto cinzentos. Como se eu visse tudo através de um vidro sujo. Às vezes há pequenos pedaços limpos, através dos quais consigo ver coisas coloridas e menos distorcidas, mas são pequenos, pequenos. E assim eu passo os dias.
Selecionando o que devo comer e o que não devo, tomando banho, ora amando, ora odiando meus cabelos, meu rosto, meu corpo, minhas unhas, meu ser.
Esse ser que eu não sei bem quem é. Que não é mais aquela pessoa de outrora. Num saudosismo infantil, quase piegas, eu penso que eu já fui alguém bem melhor. Alguém bem "legal". E agora... sou alguém, apenas isso.
Não que eu tenha passado a ter defeitos horríveis que antes não tivesse. Ou qualidades fantásticas. Ou algo que me distinga. Não, algo quebrou, virou pó, o vento levou, e estou tentando saber quem eu sou, no meio do que restou.
Me perguntaste: onde foi que morri?
Tu, eu realmente não sei.
Mas eu, ah, eu sei exatamente onde morri. Quando, onde, e a que horas. Não que isso ajude muito.
Daremos um jeito, penso, de ressuscitar. Viver de novo. Limpar os vidros sujos que nos impedem de ver o colorido do mundo.
Te proponho um trato: 90 dias. Aí nos vemos de novo.
Beijos e carinho,
C.