quarta-feira, 8 de julho de 2009

Carta a Daniel 7


Querido Daniel,
posso cansar? Posso querer que o mundo acabe? Posso desejar desintegrar-me nesse instante?
O fastio e as tortas de maçã com a Julia Roberts no meu sonho.
Posso não querer mais nada disso? Essa vida, esse trabalho, esses pensamentos, as fantasias e sonhos irrealizados?
Posso, simplesmente, deixar de querer o que quer que seja?
Posso sair sorrindo pela rua pelo simples fato de sorrir, sem qualquer motivo real ou aparente para tanto?
Posso esquecer daquela palavrinha "felicidade" e simplesmente sentir um contentamento infantil em relação às coisas que posso chamar de boas? E uma mágoa raivosa e chorona de tudo o que posso chamar de mau?
Não há nada calado dentro de mim, mas há tudo aquilo que ainda pensa que vive a mordaça.
A boca abre, mas não fala.
O coração bate, mas não sente.
A mão se estende, alcança, mas não toca.
E o cheiro da terra úmida anestesia minhas narinas.
Eu queria te mandar um presente, recusaste. Depois senti-me idiota. Pior, senti-me invasiva. Não me permitiste dentro do teu mundo. De novo, talvez não faça diferença.
Eu bebo vinho e penso em ti. Eu disse que beberia vinho olhando para o rio e pensaria em nada, mas não foi isso o que aconteceu. Não bebi vinho nenhum e pensei em me jogar naquela água, simplesmente nadar até o outro lado, ainda que fizesse muito frio, ainda que o outro lado estivesse muito longe e fosse já outro país.
Agora estou de volta aqui, sentada nessa mesma cadeira, te escrevendo ainda mais outra vez e bebendo um vinho qualquer. Ouvindo uma música triste que me irrita. Talvez, justamente, porque seja triste e eu esteja cansada da tristeza. Tu não estás?
Nem te peço mais notícias. Já nem quero mais.
Um beijo embriagado,
C.

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