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domingo, 4 de dezembro de 2011

Carta a Daniel 23


Querido Daniel,
talvez o amor que eu busque, seja, afinal, inexistente.
Talvez os momentos felizes sirvam apenas para lembrar da tristeza que resta no fundo do pote, quando acaba o doce.
Talvez os risos todos sirvam apenas para lembrar o vazio do silêncio que nasce da ausência. A tua ausência, a ausência de todos, a ausência do meu espírito que se foi. Eu pensava que a fortaleza voltaria a habitar essa morada, mas as coisas continuam aos pedaços. Aquele furacão que levou Dorothy fez com que ela nunca voltasse a ser mesma.
Ou era tudo sonho?
Talvez porque é dezembro. Talvez porque mais um ciclo acaba. Talvez porque a fé insista em desistir.
Tu foste viver outra vida, tu nem lembras mais que eu existo. Se é que algum dia existi. Existi?
E tantas coincidências.
E foste nada, nada. Agora há aquele caderno incompleto, inacabado, como essa idéia, como a idéia de ti. Quem eras tu? O que buscava eu?
Nem sei mesmo onde estava. Estávamos.
Uma livraria no meio da avenida mais movimentada do mundo. Uma calçada com todas as pessoas do mundo.
E eu chorando. E eu gritando.
E ele me dizia: eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo...
Quem eras tu?
Eu sei quem ele é, e há sempre um ele, não é mesmo?
E o passado que volta como onda revolta do mar para me cuspir lixo na cara.
Onde estou? O que busco?
Talvez um amor, afinal, inexistente.
Algo que preencha um vazio impreenchível.
Um abraço do tamanho do mundo, que aplaque essa solidão infinita e gélida.
Deve ser por isso que estou sempre com frio.
Um beijo com gosto de areia salgada,
C.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Carta a Daniel 16


Querido Daniel,
sinto que me perdi. Em algum momento, em algum lugar, eu simplesmente me deixei levar por divagações e esqueci o que faço aqui. Será que tu poderias ajudar-me a lembrar?
Saturno passou por cima de mim como um trator. Ou um tanque de guerra. Ainda estou no meio da terra arada, no meio da poeira, sem saber ao certo se devo plantar algo aqui novamente. Racionalmente penso que o resultado de tudo isso deve ser bom, há de ser bom. Mas emocionalmente me sinto vazia, anestesiada. Quando consigo sentir algo, esse algo é apenas desolação. Eu vejo a terra mexida, eu vejo os restos do que havia ali antes, eu tento entender como aconteceu e não entendo. Será que tu poderias tentar entender? Para depois explicar-me?
Das várias coisas que eu pensei, eu pensei que não, que ele não merece isso. Eu não devo dar esse gostinho a ele. Um gostinho amargo de uma vitória que é na verdade uma derrota. Essas pessoas todas, quem elas pensam que são?
Iludo-me, eu sei. Essas preocupações comezinhas que me distraem de tanto em tanto, elas não têm qualquer base na realidade. A realidade é cinza. A realidade não tem essas cores que insistem em me ludibriar.
No entanto, a bem da verdade, não tenho força, não tenho vontade, e há dias em que me pergunto que energia misteriosa me leva a levantar da minha cama e ir até onde quer que seja, ainda que esse onde seja apenas a cozinha ou o banheiro... não sei que força estranha me move ao banho, a comer, a vestir, a afagar a gata, sinceramente não sei. Será que tu sabes? Se sabes, podes contar-me?
Sinto saudades tuas.
Um beijo com gosto de chá,

C.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

When you were young

Isso passou. E eu cansei.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Carta a Daniel 14


Querido Daniel,
com o tempo, eles deixam de ser pessoas. Passam a ser memórias. E na memória podem ser quem nunca foram, nem serão. Os rostos ficam distantes, e começamos a trocar a cor dos seus olhos. Uma anedota deixa de ser tão engraçada e não lembramos mais quem foi que a contou.
Porque o tempo faz os amores arrefecerem, cederem, dobrarem-se. Perdem quase todo seu significado. E as pessoas que deixamos de amar perdem suas cores. Perde-se o cheiro de sua pele, o calor de seu abraço.
E aquela idéia de conhecer alguém quase tão bem quanto a si mesmo cai no vazio, no escuro, deixa de ser plausível, passa a ser mero devaneio juvenil.
Eu acho que a modernidade fez isso conosco: nos desvinculou. Trocamos de amores como quem troca de roupa, ainda que isso nos magoe e nos deixe sem rumo. Não podemos mais esperar passar a vida ao lado de quem amamos, porque esse amor se desfaz como açúcar na água. Ainda se pudêssemos aquecer tal mistura, obter uma calda que virasse depois um caramelo, doce e duro, tanto mais perene, um pouco mais difícil de dissolver. Mas não há como fazer isso, ou ainda não aprendemos a fazê-lo. Então a água leva o açúcar embora e no máximo aparece uma outra ou outra formiga a tentar lamber o açúcar que não mais está ali.
Meu coração partiu e desde que ele partiu, eu não sei mais respirar direito.
Conta-me do teu coração.
Um beijo com sabor de regoliz,
C.


(OBS. A carta número 13 foi extraviada pelos correios)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um vampiro nunca entra sem ser convidado


O mesmo disco. A mesma música. O mesmo risco no disco.
O mesmo disco. A mesma música. O mesmo risco no disco.
E, no entanto, você coloca o disco para tocar, sabendo que a agulha vai parar no risco e aquele mesmo verso da canção vai repetir. Repetir. Repetir.
Mudam os atores. Não muda o espetáculo.
Muda o cenário. Não mudam as falas.
Quem você é não importa, desde que cumpra o seu papel. Não ouse sair dele. Na verdade, você não pode ousar sair dele porque não sabe que o faz.
As minhas unhas crescem, meu cabelo cresce, hoje sou mais velha do que ontem, mas mais jovem que amanhã. Vesti-me de princesa e fiquei bem, mas não pude partilhar isso com você.
Lembrei-me daquele homem a amparar uma mulher. A mulher dele. Pensei nisso: amparo.
Alguma vez você se sentiu amparado? Soube onde procurar refúgio?
Não é mesmo infinitamente triste procurar abrigo e ter de dormir ao relento?
Eu dormiria na beira da praia, olhando para o mar até meus olhos fecharem sozinhos, mas eu não precisei. Um estranho me estendeu a mão enquanto os seus pensamentos não estavam em mim.
Eu estava triste por você estar aqui e não estar. Agora talvez você queira estar aqui e para mim já não importe. Tudo o que eu disse antes não deixou de ser importante, mas eu sinto que a mensagem ainda não foi completamente e corretamente interpretada/absorvida/analisada/ processada.
Não ouse fugir ao seu papel porque isso faria com que eu tivesse de replanejar o meu. Buscar as pedras para reconstruir o meu castelo, que vem ruindo desde o momento em que percebi ser marionete de mim mesma. Ainda não cortei todas as cordas que me prendem àquilo que eu achava que era. Você se enredou nas cordas soltas e não sabe como fazer para cortar as suas próprias cordas. Use a cabeça: compre uma tesoura.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Carta a Daniel 8


Querido Daniel,
8 é um número mágico, do infinito. E o que me pega por dentro e me mastiga e me cospe é essa falta de possibilidade de pensar no infinito. E as bobagens que tenho feito, que nem com 15 anos de idade tinha feito. Os erros que eu cometi que vêm se esfregar na minha cara e esse frio por dentro e por fora, que não termina, não termina...
Porque eu não posso mais planejar? Porque eu não posso mais querer? Porque tanto vazio, tanto vazio, tanto vazio? E frio? O calor que me faz suar é ruim. Não é um calor de verdade, é de mentira. E acho que tens razão quando dizes que tenho a aparência enfermiça de um poeta romântico. Mas agora morro de falta de amor. Pálida. Fria. Triste.
Eu queria a árvore de natal, os presentes, a comida e os abraços quentes. Sorrisos. E só vejo tristeza no fundo dos meus próprios olhos. Há momentos em que o mundo se torna um lugar absolutamente horrível e poucas coisas salvam. Mas hoje ele disse pra mim que as pessoas nunca amaram tanto, e eu quis acreditar. Eu juro que quis acreditar, mas até agora acho que não acredito. Sinto como se fôssemos todos mendigos dormindo na rua nesse frio abissal. E, no entanto, poucos são os que se aproximam uns dos outros na tentativa de se aquecerem.
Eu vou guardar teus iogurtes na geladeira, prometo que eles não vão estragar. Todo dia acordo nauseada e hoje não foi diferente. Vontade de vomitar o mundo que durou o dia inteiro. Tentei me concentrar na comida. Tentei pensar que era realmente boa. Tentei dizer: amiga, não coma bobagens, esqueça disso, tu não precisas disso. Tentei dizer: amiga, é melhor que seja assim. Tentei dizer: amiga, cospe na cara dele e nunca mais lhe dê ouvidos. Tentei, tentei. O máximo que consegui foi consolar um choro que tinha muito motivo. Que era quase meu. Porque foi dia 23 e no dia 22 eu esqueci de cantar aquela música que eu um dia prometi cantar todo dia 22 por qualquer motivo que eu não lembro. Já não importa.
Ele me disse que eu sou uma pessoa ótima. Ontem eu ouvi que sou uma pessoa legal que vai achar alguém legal. Mas eu preciso de calor, carinho e futuro. Talvez nessa mesma ordem. Coisa que eu não sou capaz de dar. Futuro. Alguém? Alguém?
Talvez quando a gente não tem mais nada a perder, seja a hora de ganhar. Eu ainda desconfio. E vejo quanta gente escrota ainda pisa nesse mundo lindo. E os erros vêm e me sujam a face. Debocham de mim. E eu apenas observo.
Preocupei-me com a ausência e talvez não seja nada. Talvez eu me importe demais, seja legal demais. Ainda. Mesmo com todos as pedras que tomei no meio do caminho. Os tombos que levei. Não quero me vangloriar. E ele conhece uma nova eu. Essa pessoa que fica com ele, que eu não sei quem é. Será que tu gostarias de conhecê-la?
Amanhã vai ter sol e vai nevar. Ah, vai. Eu vou pra Etretat, te contei? É, eu vou. Olhar aquele mar por ti.
Um beijo salgado e frio,
C.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Carta a Daniel 7


Querido Daniel,
posso cansar? Posso querer que o mundo acabe? Posso desejar desintegrar-me nesse instante?
O fastio e as tortas de maçã com a Julia Roberts no meu sonho.
Posso não querer mais nada disso? Essa vida, esse trabalho, esses pensamentos, as fantasias e sonhos irrealizados?
Posso, simplesmente, deixar de querer o que quer que seja?
Posso sair sorrindo pela rua pelo simples fato de sorrir, sem qualquer motivo real ou aparente para tanto?
Posso esquecer daquela palavrinha "felicidade" e simplesmente sentir um contentamento infantil em relação às coisas que posso chamar de boas? E uma mágoa raivosa e chorona de tudo o que posso chamar de mau?
Não há nada calado dentro de mim, mas há tudo aquilo que ainda pensa que vive a mordaça.
A boca abre, mas não fala.
O coração bate, mas não sente.
A mão se estende, alcança, mas não toca.
E o cheiro da terra úmida anestesia minhas narinas.
Eu queria te mandar um presente, recusaste. Depois senti-me idiota. Pior, senti-me invasiva. Não me permitiste dentro do teu mundo. De novo, talvez não faça diferença.
Eu bebo vinho e penso em ti. Eu disse que beberia vinho olhando para o rio e pensaria em nada, mas não foi isso o que aconteceu. Não bebi vinho nenhum e pensei em me jogar naquela água, simplesmente nadar até o outro lado, ainda que fizesse muito frio, ainda que o outro lado estivesse muito longe e fosse já outro país.
Agora estou de volta aqui, sentada nessa mesma cadeira, te escrevendo ainda mais outra vez e bebendo um vinho qualquer. Ouvindo uma música triste que me irrita. Talvez, justamente, porque seja triste e eu esteja cansada da tristeza. Tu não estás?
Nem te peço mais notícias. Já nem quero mais.
Um beijo embriagado,
C.

domingo, 21 de junho de 2009

Carta a Daniel 5


Querido Daniel,
eu percebi. Ao menos acho que percebi. Não digas nada, tudo bem. Eu quis te ligar, eu quis te mandar um e-mail, eu quis te perguntar. Não fiz nada disso. Mandei uma mensagem no teu celular, e acho que ela voltou. Ou sequer chegou. Não obtive resposta e não quero admitir que talvez isso seja a resposta.
Deixei uns 5 recados no voice mail de um celular da Inglaterra. Nem sei se o número estava certo, mas eu tive que pedir: please, please, contact me, I wanna talk to you. Fiquei de tentar de novo. It's a mobile, right? Então eu nem preciso mais me preocupar com o horário.
Depois tocou Shania Twain e eu pensei que era um sinal. Eu e essa história ridícula de sinais. Não houve nada aí, tu sabes. Nada, a não ser o vento de mudança. Eu acredito no vento de mudança, tu deves me achar completamente doida.
Acho que tiraste lágrimas de dor de dentro das tuas veias. Havia sangue no meu sonho. Não era o teu sangue no meu sonho, mas eu senti como se fosse a dor de dentro do teu sangue naquelas tuas frases que lembravam de quando eras alegre. Depois morremos e não sei bem o que restou. Agora eu consigo sorrir. Precisava de colo e de que tu dormisses comigo. Acho que não vens agora, mas me agarro à uma esperança quase infantil (ou apenas tola), de que tu vens, tu realmente vens, e eu só tenho que te esperar.
Mas me disseram que querer isso não é infantil, então eu quero. Fico esperando os tais sinais, fico esperando o vento vir soprar idéias no meu ouvido. Fico esperando que o vento me traga notícias tuas, me traga um beijo teu no meu rosto.
Algo que acalente. Algo que me encha de esperança. Essa idiota que recusa-se a morrer.
Porque assim o verão chega mais rápido e com ele o sol. E dias de luz, que precisamos os dois. Pés na areia da praia, não me custa nada sonhar, então eu sonho.
Quando voltares dessa escuridão interna onde eu penso que estás agora, mande-me notícias.
Muito amor,
C.