quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Carta a Daniel 12


Querido Daniel,
hoje pensei em te atirar na cova, aos leões. Não sei bem o que pretendo com isso. Não sei bem se os leões são de verdade. Talvez sejam gatinhos e eu esteja enxergando mal por causa da chuva e do escuro. Talvez eu ainda veja os mesmos fantasmas de sempre, mesmo que não me assuste mais com suas correntes.
Eu te mandaria uma rosa vermelha, sabes? Mas vais ter de te contentar com uma pedrinha branca. Alba notanda lapillo... Etretat é cheia de pedras brancas, para que todos possam guardar o dia que chegarem lá. Um dia feliz.
Fora isso, beberei vinho todos os dias. E sorrirei. Dessa vez vai ser diferente porque dessa vez eu quero, e é algo para mim, apenas para mim.
Hoje eu gostaria de cortar fora toda a minha pele, com uma lâmina bem afiada. Queria uma pele nova, um olhar novo, um sorriso novo. Mas sei que amanhã estarei novamente confortável comigo mesma. Como está a tua pele, Daniel? Te sentes bem nela?
Agora passo a vê-lo mais como homem, menos como menino. Antes havia algo que me impedia de vê-lo como homem. Era tão só um menino. Bobo como todos os meninos. Não sei dizer o que mudou.
O conflito é a falta de amor, sabias disso? É o não amar. O não amar que ainda me atormenta, às vezes. Eu disse: eu quero te amar. Não sei se isso foi ouvido. Aí as palavras se perdem no vento, talvez percam também o sentido. Talvez tudo, no fim, seja nada.
Um beijo machucado,
C.

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