terça-feira, 8 de junho de 2010

Carta a Daniel 21

Querido Daniel,

Eu preciso te dizer adeus. Nem que seja nos meus sonhos. De alguma maneira, tu estavas lá, dentro do meu coração e dos meus pensamentos. Foste substituído por algo de real, mas me doeu perder-te. Assim como doeu imaginar que eu poderia perder o que tenho de concreto. Mas ele voltou com uma camiseta verde e isso me deu esperança.
Havia uma floresta escura à frente da tua casa, eu não queria que ele fosse até lá. Eu tinha medo que ele não voltasse. Mas também não queria deixar-te. Agarrei-me a ti, com os braços e as pernas e minhas lágrimas, mas permaneceste inerte, como se eu não estivesse ali, como se meu corpo não estivesse junto ao teu.
Havia um veneno em uma seringa negra. Eu tinha uma arma futurista e letal. Havia um helicóptero negro. Eu precisava fugir, eu precisava de ajuda, eu passava mal, eu estava envenenada. O máximo que consegui foi que minha irmã pegasse um ônibus comigo. Eu precisava esconder-me.
Como pudeste simplesmente excluir-me da tua vida como se eu nunca tivesse feito parte dela? Como podes viver sem sequer dedicar um único e singular pensamento a mim? Ainda que o fizesses de tempos em tempos?
Eu sei que me apagaste de tudo. Eu nunca existi. Eu não fui, não sou, não serei nada para ti. E isso não te doeu nada. Tu não sentes dor, tu nunca sentiste a minha dor. Nunca te preocupaste comigo, nunca pensaste que eu poderia simplesmente ir...
Não te deixo mais beijos. Não mais.
C.

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