quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Havia um planetinha...

As unhas eram flúor, no cair da tarde, os pés e a cama, as unhas, e a pele, era tudo da mesma cor. Um rubro de pêssego que evocava sexo. Mas não algo bruto, uma coisa mais sensual, porque era preciso explorar aquela pele, aquela cor, aquela textura, aquele cheiro.
Ele achava que ela não percebia que o amor estava no toque dos pés, e no corpo que insistia em virar durante a noite para o lado que ela virasse. Ele achava que ela não percebia as muitas palavras que ele trazia no olhar e nunca tinha coragem suficiente para dizê-las. Ela achava que ele achava tudo isso. E o silêncio ficava no meio, mas havia o toque, e os dedos entrelaçados.
Ela dizia que não: não quero ouvir essa música, não quero ver esse filme. Ele não entendia que para agradar era fácil, era só não tentar tanto. Que ele devia prestar atenção nas esquinas, de onde a alma dela sorria e piscava o olho de jeito maroto.
Está tudo nos pormenores, nos segredos, nos olhares, na ponta dos dedos, nos fios de cabelo. Não há espaço para brutalidade, qualquer que seja a sua forma. Não há espaço para que algo seja forçado.
Ela queria dançar, dançar como uma folha ao vento. Para isso é preciso leveza. Leveza, e ele afundava cada vez mais nos cabelos dela, e os braços dele cada vez a aprisionavam mais... Para segurar areia nas mãos é preciso tê-las semi-abertas, assim o vento não leva a areia, e ela também não escorre entre os dedos.
Ela não saberia dizer se há mesmo uma coisa de "seu tempo, meu tempo". Há o tempo. Ele passa para todos. Assim é.
Ela saiu correndo sem correr. Ela olhou para trás e virou estátua de sal. Duas vezes. O sal derreteu com a umidade, depois veio o sol e o vento, secou, voou. Choveu, virou água do mar. Não vai mais voltar. Se não há o agora, não há o depois, o que há de tão difícil nisso?
Porque a rosa estava lá. Estava no beijo que devia durar mais e na carícia que devia ser mais suave. Estava lá, para onde foi?

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