quinta-feira, 23 de abril de 2009

Insólito


O centro dessa cidade é insólito. Essas ruas dessa cidade onde nasci, cresci e vivo até hoje, escondem preciosidades e também todo tipo de miséria humana. Essas ruas que permaneceram praticamente as mesmas enquanto eu crescia. Talvez elas tenham rejuvenescido, e só eu esteja envelhecendo. É quase como aquelas beatas (sim, sim, elas existem!) que moravam no prédio onde passei praticamente toda infância e início da vida adulta. Para mim elas sempre foram velhas, sempre, pra mim, continuam iguais, mesmo 25 anos depois. Isso, certamente, deve parecer uma sandice. Mas vejo aqueles rostos, e me parecem os mesmos. No entanto, noto um rejuvenescimento neles, talvez as pessoas quanto mais velhas fiquem, mais próximas da infância acabem chegando. As beatas, essas, eu noto nelas um olhar mais pueril, um sorriso naqueles rostos antes tão circunspectos, tão sérios.
O casal de velhinhos agora anda de mãos dadas. Ela estala um beijo nos lábios dele quando se despedem e partem cada um para suas andanças... ele, até a farmácia. Ela, ao clube de tricot.
E os músicos de rua... e os índios, os mendigos, os velhos com olhares vazios, sentados sempre nos mesmos bancos, as prostitutas que volta e meia se pegam, se arrancam cabelos e se navalham os rostos com unhas afiadas.
O músico hoje cantava "you can't always get what you want..." e nada me pareceu mais verdadeiro, ainda que ele desafinasse.

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