Dentro dela havia um líquido que ela me jurou que se eu bebesse, morreria e nasceria de novo, exatamente do jeito que eu sempre quis ser.
A ensanguentada andava largando pus em vez de leite pelo bico dos seios e eu não entendia porque ela simplesmente não amamentava o próprio filho. Disse a ela que ela também poderia beber da garrafa azul: ela não quis.
Fiquei ali contemplando o espetáculo de sangue e nojo, entre nauseada e espantada com a cena, com o egoísmo, com todo o ato. Era como teatro. Era um puro fingimento. A rainha das sem noção achava lindo e comentava que era mesmo hora de experimentar o mundo. Que mundo? Isso eu não sabia.
O que eu sabia é que poderia apenas morrer ao beber da garrafa azul e não tinha bem certeza se era isso mesmo que eu queria. O que eu queria, ali, naquele momento, era que alguém me salvasse. Me tirasse da cama, me botasse a correr e suar. Me fizesse parar de pensar e chorar.
Enquanto eu esperava, ficava ali, vendo aquela pessoa feita de sangue atuar. Encenar a vida perfeita, a humanidade perfeita cercada pelas paredes de açafrão de uma casa de mentira.
Eu não conseguia lembrar qual das pílulas era que a que me levaria de volta à Matrix: azul ou vermelha?
Tive medo do sangue, então fui embora. Que os outros continuem com seus atos, com seus sofrimentos guardados a sete chaves, e sua felicidade de plástico estampada no rosto.
Levei a garrafa comigo, posso precisar dela.
Um comentário:
Texto muito bom, com peso!
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