Já que hoje estou emotiva... em 2001 eu fui pra Nova Iórque. Eu, minha mãe e minha irmã. Meu avô tava doente e minha mãe voltou antes. Tivemos contratempos, minha mãe, pra variar, tava surtando. Antes dela voltar, fomos para Boston, para visitar Harvard. Em 60 e poucos, minha mãe tava na faculdade de Direito da UFRGS e ganhou uma bolsa para um curso rápido sei-lá-de-quê em Harvard. Assistiu uma palestra do Bob Kennedy e apertou a mão dele. Ficou um mês lá, numa casa de família. Era ótima aluna e acabou ganhando uma bolsa parcial para cursar Ciências Sociais em Columbia, em Nova Iórque. Mas meu avô não tinha grana pra pagar o resto, e não era garantido que ela conseguisse trabalhar e estudar pra pagar o resto da bolsa. Então ela voltou pra Porto Alegre, lugar que já era bem longe do lugar onde ela nasceu: Vila Flores, no interior de Santiago do Boqueirão (onde quem não é bandido, é ladrão, segundo adágio popular). E aqui ficou. Se formou, casou, teve 2 filhas, separou, criou as duas filhas, passou num concurso, depois noutro...
Quem me conhece sabe o relacionamento turbulento que tenho com a minha mãe. Nunca foi falta de amor, mas a comunicação simplesmente não acontece. Ela não sabe, mas tenho adoração por ela. Não adianta eu dizer que a amo, ela não acredita. Não adianta ela dizer que me ama (coisa que ela nunca disse e duvido que o faça), disso eu sei, os problemas são outros.
Mesmo assim, eu pensei hoje, que se Deus me perguntasse se eu preferia ter nascido, ou se eu preferia que ela pudesse ter ganho uma bolsa integral e tivesse ficado nos Estados Unidos, eu responderia, sem qualquer dúvida, que eu preferia que ela tivesse conseguido alcançar todos os sonhos dela, que ela tivesse conseguido ficar lá. Sem sombra de dúvida.
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