terça-feira, 13 de setembro de 2011

Incompleto... pra variar.



A cena era um espetáculo bizarro. Embora fosse verão, parecia-me que a água cristalina do mar era gélida em qualquer estação. No entanto, eles estavam lado a lado, submersos, pareciam golfinhos à espera. Os corpos suspensos dentro d'água, como se dormissem.
A cena era de todo surreal: aqueles corpos imersos na vastidão límpida do mar gelado, lado a lado. Na areia, os carros estacionados com os faróis acesos, virados de frente para o oceano, iluminando aquelas pessoas. Era como se fosse algum tipo de chamado, algum tipo de sinal.
Alguns dias antes os italianos gritavam "Ave Caesar" para aquele que seria o líder. Comíamos pizza e paramos de comer praticamente chocados com a estranheza da cena.
O próprio César não sabia o que fazer, apenas deu uma risada e logo foi seguido por todos, o que aumentou nosso sentimento de temor. Não sabíamos o que estava por vir,
mas a essa altura era claro que alguma coisa crescia no interior do mundo, algo como um pensamento que tomasse forma a partir das sombras e esperasse o momento certo para agir.
Durante aquela semana naquele país estranho, enquanto investigava com muita discrição o passado e a origem daquelas pessoas, meus sonhos à noite foram tornando-se cada vez mais estranhos e vívidos.
Tudo era muito colorido e marcante. Procurava anotá-los em detalhes assim que acordava, mantendo um caderno e uma caneta ao lado da cama, no bidê. Carregava as anotações comigo, mas perdia muito dos detalhes. Sabia que ninguém podia ter acesso àqueles escritos, tinha certeza de que, embora parecessem sem significado, aqueles sonhos e o que eu escrevia sobre eles continham mensagens que não podiam cair em mãos erradas. Quais eram as mãos erradas era o que eu estava tentando descobrir.
Desde a minha chegada há apenas 3 semanas tudo tinha mudado da água para o vinho. Eu via a transformação tomando conta de lugares e pessoas à minha volta. Aquela gente amistosa estava cada vez mais amistosa, demais, na verdade, e eu tentava entender o que acontecia. Tornava-se cada vez mais difícil circular pela cidade sem que alguém viesse estar comigo e querer me fazer companhia. Eu precisava investigar e para isso tinha de ter privacidade, coisa que andava em falta.

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