Querido ...,
Tinha pensado em te escrever uma carta vindo para o trabalho agora de manhã.
Era uma carta linda, e-mail, o que fosse, que começava com uma frase ótima que eu esqueci.
Eu queria te mandar alguma coisa, acho que era uma música. Não importa, era apenas uma desculpa para tentar falar contigo, por qualquer razão.
O que eu queria te dizer é que tu me moveste.
Li um livro que teve enorme impacto sobre mim, quando eu tinha uns 15 anos. Chama-se Cleo e Daniel, talvez tenhas lido?
Quando eu o li, foi emprestado de um amigo. Agora que tenho 30, decidi comprar o livro e lê-lo outra vez.
Ontem à noite, porque ainda estou lendo um outro livro, peguei Cleo e Daniel e abri uma página ao acaso, pensando em ti, pensando em aprender a falar francês, e havia uma frase em francês, bem no meio da página:
Évidemment. Et alors?
O que se traduz por (eu acho): evidentemente, e agora?
E agora? Bom, acho que devo começar minhas aulas de francês logo.
O que eu quero dizer é que eu quero agradecer-te, por ter algo em você que me tocou, que me moveu.
O que que quer que seja isso dentro de você e que eu fui capaz de ver, aparte da tua enorme necessidade de ser cuidado, que sempre me atraiu aos homens.
Claro que não disseste: por favor, cuide de mim. Eu apenas reconheci isso em ti, porque geralmente me atraía. Mas não foi isso. Foi outra coisa. Olhos que reluzem, talvez... quem sabe?
Não sou capaz de cuidar de ti. Mas posso, e devo, cuidar de mim mesma. E disseste que não podes ser cuidado, porque já foste muito machucado antes e não suportas mais o toque. Ainda que seja carinho. Mas talvez só por agora.
E está tudo bem. Pra ti e pra mim. Mesmo que a gente perca o contato. E tu não ouças as músicas que te mando. Mesmo que nunca leias isso, ainda que eu acredite que de alguma maneira estamos um na vida do outro. Para estar.
Por mais bobo ou ingênuo que isso possa parecer.
Amor,
Cléo.