domingo, 13 de março de 2011

A vida imita a arte


Minha vida daria um livro.

Não que eu seja mais especial que os outros. Mas minha história é interessante. E como naquele filme de Woody Allen que eu adoro, Melinda & Melinda, dá para fazer um drama ou uma comédia, depende do ponto de vista.
Meus pais são separados desde meus 5 anos de idade. Meu pai foi embora e eu nunca mais o vi. Até 2009.
Em 2009, depois de uns acontecimentos na minha vida, eu resolvi ir até a cidade onde ele mora. Não fui para vê-lo. Ou, ao menos, convenci-me de que ia apenas para conhecer meus meio-irmãos e não para vê-lo. Fui para passar um final de semana. No domingo à noite, aos 45 do segundo tempo, debaixo de uma chuva e do frio, eu resolvi ir conversar com ele. 26 anos. 26 anos. Uma vida.
A conversa, claro, foi estranha. Todo aquele final de semana foi muito estranho.
De lá para cá, eu não falo com ele. Não nos telefonamos, não nos escrevemos. Sei dele através da minha hermanita. No início deste ano fui novamente onde ele mora, para passear e rever minha meia-irmã. Claro, acabei vendo-o outra vez.
Passada a raiva que senti lá em 2009, que foi muito, muito intensa (não dele, mas por toda a situação em si, coisa que talvez um dia eu escreva a respeito), dessa vez eu senti compaixão. Ele é um velho, apenas isso, e cometeu muitos erros. Mas o fato é que sei pouco sobre ele e não quero perder mais tempo da minha vida ressentindo-me dele. Ou da minha mãe (outro capítulo na história, quem sabe um dia eu escreva). Ou de quem quer que seja.
E o que acontece agora? Agora, depois de todo esse tempo perdido (ou não), depois desse reencontro que não teve nada de Oprah, nada de Faustão, nada de lágrimas, nem de abraços, nem de porcaria nenhuma. Depois desses encontros estranhos e que depois adquiriram uma naturalidade, como se a separação nunca tivesse acontecido, como se nos falássemos todos os dias. Depois disso, depois de algumas transformações internas minhas, e depois de eu ter resolvido retomar o contato com meu pai, eu descubro que ele, muito possivelmente, vai morrer este ano.
Não é mesmo patética a vida?
Espero que hermanita não fique (muito) triste ao ler isso, mas eu sou uma pessoa prática. E pelo que ela me contou, a morte é quase iminente. Eu espero que ele não morra, mas, ao mesmo tempo, não sei se desejo hemodiálise pra ele, a essa altura da vida. 
O que me entristece é isso: é conhecê-lo tão pouco, saber tão pouco sobre ele, saber que ele vai ser sempre uma coisa fragmentada na minha memória.
Não que o mesmo não aconteça com a minha mãe. Eu sei muito sobre ela, claro, vivemos juntas até os meus 20 anos. Mas lá se vão 12 anos que eu saí de casa, e nos distanciamos. E eu sei que as coisas que importam ela jamais contou.
Isso é o que me entristece a respeito das pessoas que amamos e que são parte (literalmente, já que estão em nosso DNA) de nós: o quão pouco as conhecemos. O pouquíssimo que sabemos delas, principalmente quem elas eram antes de existirmos em suas vidas.
Não é mesmo patética a vida?

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