segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Carta a Daniel 10


Querido Daniel,
hoje vou te escrever sobre mim. Pode parecer estranho, mas a realidade é que nunca te escrevo sobre mim. É sempre sobre ti. Mas hoje é diferente.
Sabe, no fundo, deve ter sido inveja, por mais que me seja difícil admitir. Deve ter sido inveja mesmo, e isso me faz sentir extremamente envergonhada. Eu disse pra uma amiga que a gente não deve ter vergonha de coisas que não são nossa culpa. Eu sei que não é minha culpa, embora no fundo talvez seja.
A inveja era porque eu tenho certeza de que não seria do mesmo jeito comigo. E eu gostaria muito que fosse. Não seria e isso não me impede de nada, talvez só dificulte um pouco mais, e eu não fiz nada e fiquei apenas sentindo pena de mim mesma e inveja alheia.
Depois tinha a história do café. Era mesmo muito boa embora não faça sentido nenhum. Eu comecei a história e depois esqueci onde eu queria chegar com ela e é bem provável que não fosse necessário chegar a lugar algum. O que importava era a história de como eu conheci aquele café numa madrugada quente em São Paulo, no quanto a companhia me fez bem e no quanto eu me senti sozinha e deslocada naquele fim de semana que acabou se repetindo em Curitiba 3 anos depois, no mesmo café, que acabou se repetindo mais 3 anos depois, de novo em São Paulo e acabou não se repetindo, mais 3 anos depois, na mesma Curitiba. Essa coisa de me sentir sozinha e deslocada. Curitiba não me fez mais sentir assim. 3 anos depois. Eu me senti bem, eu me diverti, eu senti que alguém teve saudades de mim.
Mas me fez ver o quanto de horror, mágoa e raiva ainda existe. A ponto de eu acordar no meio da noite sendo afogada por uma água salgada e fria de um oceano de decepção que eu ainda levo dentro de mim.
Me diz: não é realmente mesmo bom isso de ter a atenção e o afeto de alguém? Sem ter que ter feito nada de especial em troca? Não é mesmo bom isso de alguém olhar pra você, conversar com você e simplesmente gostar de você porque você tem toda uma gama de defeitos e qualidades que te tornam único e essa é a razão desse alguém gostar de você? Porque você é único?
Porque você é único. Você pode achar o que quiser de você mesmo, e você pode se comparar a quem quer que você se compare, mas você é único e, por isso, só por isso, merece ser amado.
Não merecemos quase todos?
Beijo com gosto de chuva,
C.

Um comentário:

Sarah disse...

adorei essa ideia, de cartas, ja fiz algumas tb, tu me inspirou!
beijos e parabens pelo blog