Querido Daniel,
com o tempo, eles deixam de ser pessoas. Passam a ser memórias. E na memória podem ser quem nunca foram, nem serão. Os rostos ficam distantes, e começamos a trocar a cor dos seus olhos. Uma anedota deixa de ser tão engraçada e não lembramos mais quem foi que a contou.
Porque o tempo faz os amores arrefecerem, cederem, dobrarem-se. Perdem quase todo seu significado. E as pessoas que deixamos de amar perdem suas cores. Perde-se o cheiro de sua pele, o calor de seu abraço.
E aquela idéia de conhecer alguém quase tão bem quanto a si mesmo cai no vazio, no escuro, deixa de ser plausível, passa a ser mero devaneio juvenil.
Eu acho que a modernidade fez isso conosco: nos desvinculou. Trocamos de amores como quem troca de roupa, ainda que isso nos magoe e nos deixe sem rumo. Não podemos mais esperar passar a vida ao lado de quem amamos, porque esse amor se desfaz como açúcar na água. Ainda se pudêssemos aquecer tal mistura, obter uma calda que virasse depois um caramelo, doce e duro, tanto mais perene, um pouco mais difícil de dissolver. Mas não há como fazer isso, ou ainda não aprendemos a fazê-lo. Então a água leva o açúcar embora e no máximo aparece uma outra ou outra formiga a tentar lamber o açúcar que não mais está ali.
Meu coração partiu e desde que ele partiu, eu não sei mais respirar direito.
Conta-me do teu coração.
Um beijo com sabor de regoliz,
C.
(OBS. A carta número 13 foi extraviada pelos correios)
com o tempo, eles deixam de ser pessoas. Passam a ser memórias. E na memória podem ser quem nunca foram, nem serão. Os rostos ficam distantes, e começamos a trocar a cor dos seus olhos. Uma anedota deixa de ser tão engraçada e não lembramos mais quem foi que a contou.
Porque o tempo faz os amores arrefecerem, cederem, dobrarem-se. Perdem quase todo seu significado. E as pessoas que deixamos de amar perdem suas cores. Perde-se o cheiro de sua pele, o calor de seu abraço.
E aquela idéia de conhecer alguém quase tão bem quanto a si mesmo cai no vazio, no escuro, deixa de ser plausível, passa a ser mero devaneio juvenil.
Eu acho que a modernidade fez isso conosco: nos desvinculou. Trocamos de amores como quem troca de roupa, ainda que isso nos magoe e nos deixe sem rumo. Não podemos mais esperar passar a vida ao lado de quem amamos, porque esse amor se desfaz como açúcar na água. Ainda se pudêssemos aquecer tal mistura, obter uma calda que virasse depois um caramelo, doce e duro, tanto mais perene, um pouco mais difícil de dissolver. Mas não há como fazer isso, ou ainda não aprendemos a fazê-lo. Então a água leva o açúcar embora e no máximo aparece uma outra ou outra formiga a tentar lamber o açúcar que não mais está ali.
Meu coração partiu e desde que ele partiu, eu não sei mais respirar direito.
Conta-me do teu coração.
Um beijo com sabor de regoliz,
C.
(OBS. A carta número 13 foi extraviada pelos correios)