segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Untitled 2

Não escrevi nada no final de semana e agora vou tentar tirar o atraso...


No dia em que meu neto chegou com aquela carta, eu já sabia que era relacionada a você. Uma carta, coisa mais antiga. Você sempre debochou de mim e da minha mania de escrever cartas, dizia que eu já tinha nascido velha. E então escolheu uma carta para me chamar. A carta era da sua filha, ela se apresentava, e dizia que não tinha conseguido achar um telefone pra me contatar, apenas um endereço, e tinha resolvido arriscar. O pai (você) estava muito doente e chamava muito por mim, essa pessoa que ela não sabia muito bem quem era.

Liguei para o número de contato, um lugar no outro lado do país. Sabia sempre que havia uma distância física entre nós, além das distâncias do tempo e das vontades, mas não imaginava tantos quilômetros.

Sua filha me atendeu com voz amável e cansada. Conversamos um pouco e eu disse que em alguns dias, estaria lá. Aí. Iria ver como você está.

E como você está? Fiquei pensando. Velho, claro. Como velha estou. Enrugado, cabelos brancos, será? Os olhos ainda muito azuis, certeza. O que me lembra um outro par de olhos azuis que há muito se foi. Vocês dois nunca me olharam da mesma maneira, mas eu olhei para os dois com os mesmos olhos. “Seus olhos”, vocês dois me disseram, em ocasiões diferentes. “Nunca vi nada igual”. E o que havia de tão especial neles, além daquela cor esverdeada de erva mate? Nada. Tudo. Amor.

Fiquei contemplando a carta da sua filha enquanto arrumava a mala. O que levar? O que vestir? O que dizer? Tantos anos. No entanto, aquela sensação de que o tempo em que estivemos separados era nada. Talvez essa seja a essência do amor: a capacidade que este sentimento tem de apagar o tempo, encurtar as distâncias e apaziguar as diferenças.

Meu neto não entendeu nada. Meu filho, menos ainda. “Mas vai viajar porquê?”. Um amigo, rever um amigo. “Mas que amigo?”. Sempre foram muito ciumentos, iguais ao pai e avô. Meu marido, meu amor, minha saudade. Era um ciúme carinhoso, não uma coisa possessiva, abusiva. Um cuidado, um afago, um medo de perder que beirava o infantil.

Um comentário:

Ana Irene disse...

me gusta mucho lo que tenés escrito!! tenés que terminarlo. quiero saber cómo termina esa historia. o cómo empieza.