segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Carta a Daniel 16


Querido Daniel,
sinto que me perdi. Em algum momento, em algum lugar, eu simplesmente me deixei levar por divagações e esqueci o que faço aqui. Será que tu poderias ajudar-me a lembrar?
Saturno passou por cima de mim como um trator. Ou um tanque de guerra. Ainda estou no meio da terra arada, no meio da poeira, sem saber ao certo se devo plantar algo aqui novamente. Racionalmente penso que o resultado de tudo isso deve ser bom, há de ser bom. Mas emocionalmente me sinto vazia, anestesiada. Quando consigo sentir algo, esse algo é apenas desolação. Eu vejo a terra mexida, eu vejo os restos do que havia ali antes, eu tento entender como aconteceu e não entendo. Será que tu poderias tentar entender? Para depois explicar-me?
Das várias coisas que eu pensei, eu pensei que não, que ele não merece isso. Eu não devo dar esse gostinho a ele. Um gostinho amargo de uma vitória que é na verdade uma derrota. Essas pessoas todas, quem elas pensam que são?
Iludo-me, eu sei. Essas preocupações comezinhas que me distraem de tanto em tanto, elas não têm qualquer base na realidade. A realidade é cinza. A realidade não tem essas cores que insistem em me ludibriar.
No entanto, a bem da verdade, não tenho força, não tenho vontade, e há dias em que me pergunto que energia misteriosa me leva a levantar da minha cama e ir até onde quer que seja, ainda que esse onde seja apenas a cozinha ou o banheiro... não sei que força estranha me move ao banho, a comer, a vestir, a afagar a gata, sinceramente não sei. Será que tu sabes? Se sabes, podes contar-me?
Sinto saudades tuas.
Um beijo com gosto de chá,

C.

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